ALMAS SOLITÁRIAS - O RETORNO
Quarenta anos já se havia passado desde o trágico acidente com o avião "Celebration", nas proximidades do Aeroporto Ponta Pelada, em Manaus.
Nada mais restava daquela pacata cidade incrustada no meio da Floresta Amazônica, à beira do majestoso Rio Negro.
Indústrias do mundo inteiro se instalaram em volta da Metrópole, trazendo riquezas e a explosão demográfica para o Polo Industrial, provocando o inchaço desordenado da cidade. Invasões de terra se transformavam, da noite para o dia, em favelas gigantescas, como muralhas cernando os bairros da periferia. Era o preço do progresso.
Corria a década de 2000.
Na antiga rua Nova Brasília, onde se manifestaram as primeiras aparições de fantasmas decorrentes da tragédia com o avião, há décadas, o desenvolvimento havia chegado repentinamente. Já não havia mais vestígios da ruazinha escura e sem asfalto que lutava para sobressair-se em meio à mata frondosa. Era uma rua cheia de viada, com casas imponentes, o que em nada lembravam as humildes residências de madeira de outrora.
Na frente da antiga moradia, onde se dera os acontecimentos com o garotinho nos anos setenta, havia uma grande casa de alvenaria, cercada por inúmeras árvores frondosas que a deixavam imersa da penumbra o dia inteiro, na esquina da rua Nova Brasília com a Presidente Vargas. Ali morava uma família numerosa, oriunda do interior do estado, que tinha uma garotinha chama Valeska, beirando os oito anos de idade. Era a única criança da casa.
Como era de costume, todos saiam para o trabalho e a menina ficava sozinha em casa, o dia inteiro. Certas vezes alguma amiguinha da vizinhança lhe fazia companhia. O dia naquela casa sombria parecia interminável.
Naquela sexta feira sombria, dia chuvoso de inverno, por volta das seis da tarde, Valeska estava sentada na área frontal da casa, recostada preguiçosamente numa cadeira de balanço, enquanto observava a cortina d'água que desabava sobre as plantas do quintal.